Comportamento, moda, fotografia, música, textos de amor e dicas. Um Blog com tudo aquilo que adoramos fazer antes de sonhar! – Por Mariana Solis

quarta-feira, janeiro 26, 2011


A Primeira Vez

Um coque frouxo, o tênis jogado debaixo da cama, fotos no chão com algumas garrafas. Lápis de olho borrado e um cigarro. Dor de cabeça e arrependimento. Ela jurava ter dormido com o cara que mais amou, enquanto ele jurava que ela era só mais uma. Seus olhos caminhavam pelo peito nu dele enquanto juntava suas roupas espalhadas pelo quarto bagunçado dele. 
Sentia-se perdida – com razão. A noite passada guardava mistérios, dos quais sua memória não fazia questão de lembrar. As garrafas jogadas e a dor de cabeça era um encaixe perfeito de que, nem se quisesse, lembraria como ela chegou àquele quarto, e pior, com ele. Ele se mexia pela cama, procurando por ela. Ela tinha vontade de fugir pra nunca mais aparecer – o que ela tinha feito? Ninguém sabia. Nem ela, e provavelmente, nem ele.
Pegou um cigarro, foi para a cozinha, como se aquele lugar fosse sua casa. Sentou-se no chão, sentindo a fumaça entrar e sair do seu corpo. Do que se importava os pulmões quando já não se existe coração? Mais uma tragada e sentia então um vazio do qual ninguém seria capaz de completar. Sentia-se distante de si mesma, como se não entendesse nada do que passou nas últimas vinte e quatro horas. Mas é claro que ela entendia, só era difícil aceitar.
_Você é linda.
_Obrigada.
_Sempre gostei de você, sabia?
_Mesmo?
_Sim. Vamos para um lugar mais reservado? Aqui está muito barulhento.
Só então entendia seu erro. Ela acreditou mais uma vez nas mentiras dele e se deixou levar pelo seu perfume. O barulho que a incomodava não era mais a música alta, mas seus pensamentos à tona. Por mais que aquele fosse o garoto que sempre amou, ela, como ninguém, conhecia seus defeitos. Mas demorou muito para que percebesse isso.
Sua inocência o agradava. A malícia dele a enganava.
Porque ela sabia o quanto ele adorava drogas, bebidas, e claro, sexo. Enquanto ela gostava de textos bem escritos, filmes dramáticos, e claro, sentimentos. Por mais que dissessem que os opostos se atraem, ela nunca entendeu como.
Mais um cigarro.
Ela queria sair dali, alguma coisa a sufocava – e não era a fumaça. Não queria só sair dali, queria sumir. Pra nunca mais aparecer, e só voltar quando já não lembrasse do rosto de nenhum das pessoas daquela cidade. Pegou seus tênis, colocou dentro da bolsa. Porta trancada – janelas. Chegou perto dele, e inexplicavelmente sentia-se mais tranquila com a respiração lenta dele. Procurou um papel e uma caneta. Um guardanapo amassado do chão serviria. Não só pra escrever – pra desiludir.
Leva ela pra sua casa. Ela é gostosa. 
E virgem.
Um nó formava-se na sua garganta, e ficava cada vez mais difícil de respirar. Devia sair correndo, mas tinha uma coisa que ela precisa dizer – e ele saber. Guardanapo, caneta e sentimentos destruídos. Aquilo daria uma carta. Mas sabia o quanto ele odiava ler.
Se era isso que você queria, você conseguiu. Se era isso que te importava, parabéns. Mas você perdeu uma garota que te amou sem julgar, mesmo sabendo dos seus defeitos. Eu sempre quis ser sua garota. Mas percebo que não quero ser ela por uma noite – ou pra sempre. Eu quero ser sua garota quando você for o meu. Pena que você nunca vai ser. E de novo, já é tarde demais.
Leu e releu. Aquilo torturava, mas devia fazer. Pegou o guardanapo, colocou no criado, deu um beijo na bochecha dele, e pela primeira vez, sentiu nojo daquele rosto. Daquele estranho que um dia pareceu tão amigo, e pior, o cara ideal. Caminhou até a cozinha, abriu a janela, com força, sem se preocupar com o barulho. Pularia, mesmo se aquilo resultasse em suicídio. Sentia merecer. Subiu na bancada, olhava para a distância abaixo dos seus pés. Aquele frio na barriga era menor do que quando sentiu as mãos dele tirando seus jeans. Pegou sua bolsa, apertou forte contra o corpo. 
Fechou os olhos.
Já quase sentia o vento da queda.
Um braço, uma mão a segurava ali. Tinha medo de olhar pra trás. E encontrar os olhos dele. 
_O que você está fazendo?_ a voz dele soava como um grito
_Preciso ir embora. Meu lugar não é aqui._ele tentava olhar para os olhos dele, para não encontrar o corpo seminu dele.
_Então pelo menos vá pela porta, você vai se machucar pulando do sétimo andar. Você ficou louca?_ ele tentava puxá-la de volta._ E o que é isso?_ele segurava o guardanapo.
_É isso mesmo que você leu.
_Eu não li nada.
Ela puxou o papel e começou a lê-lo.
_...Te amou sem julgar, mesmo sabendo dos seus defeitos._ela repetia, insegura de sua voz.
_Olhe pra mim. Não ache que eu não gosto de você. Eu gosto de você, e não é só pra te levar pra cama.
Ela continuava a ler. _Eu sempre quis ser sua garota.
_Pare. Olha pra mim e desça daí. Você é sim minha garota. Não ache que eu gostei todo esse tempo de você porque é virgem. Isso é o de menos. Por favor, não se jogue daí.
_Mas percebo que não quero ser ela por uma noite..._então ela olhou para os olhos dele e sentiu que talvez aquilo era o certo a fazer._ou pra sempre. Eu quero ser sua garota quando você for o meu.
Ela lia com as lágrimas nos olhos, sentindo o vento tocar seu pescoço, fazendo-a arrepiar. Sentia o medo de também, estragar tudo. Mesmo que não lembrasse do que tinha acontecido, algo dentro dela dizia que aquela noite fora maravilhosa. Só ela que não aceitava isso.
Ele a segurou  para tirá-la da janela. Sentiu as pernas tremerem ao ficar em pé na janela, e continuou a ler.
_Pena que você nunca vai ser. E de novo...
Sua voz falhava, e aquele vazio dentro do peito tornava-se cada vez maior. Sentia então as lágrimas correrem pelo seu rosto.
_É tarde demais.
Olhou pela última vez o azul oceano dos olhos dele antes de se jogar. O vento suave da queda poderia não ser tão bom quanto esperava que fosse. Mas só então sentiu-se menos vazia, ao vê-lo jogar daquela mesma janela. Queria não ter dito e repetido as palavras daquele papel, e ter apenas se contentado com aquela primeira vez.
Queria voltar no tempo, para escutá-lo dizer que a amava antes de ficar inconsciente.
Queria responder que o amava do mesmo modo. Só que...
De novo.
Já era tarde demais.
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