Comportamento, moda, fotografia, música, textos de amor e dicas. Um Blog com tudo aquilo que adoramos fazer antes de sonhar! – Por Mariana Solis

quinta-feira, novembro 10, 2011


O dia que resolvi inventar amor

Amor, segundo vovó, é o descontento da alma. Essa, ao sentir-se por mais de metades, quer outros pedaços de outras almas faltantes para completar a si mesma. Disse que o amor são os versos do coração que só sabia fazer prosa. Que antes, assim, por extenso, rodeava-se por outros e tantos sentimentos. E o amor surge com o vazio em torno de si, concentrado ao seu próprio centro, em rimas e ritmos. Que só sabe ser completo dessa forma, em faltas constantes e inúmeros espaços incompletos.
E eu, ainda sem entender, quis saber: como sentir?
Ela disse que assim de repente, só por querer, o amor não acontece. É algo que segundo ela, só acontece no despreparo. Sem esperar, sente-se a ventania no toque da nuca e o voo de seres estranhos chegando a ponta do estômago. Nos emaranhados do cabelo, a face por dentre ele escondido, vê-se envergonhada. As bochechas rubras, o peito a mil e lá no fundo da mente ressoa o coração a gritar: ah, meu Deus, é ele! É ele! Um riso gostoso subiu-me aos lábios, porque se aquilo fosse amor, eu realmente nunca tinha amado alguém. Deveria eu, sendo uma mera garotinha de doze anos, ansiar a vinda do amor?
Bobinha, ela disse. O amor estava comigo desde que nasci. E eu surpresa, perguntei: então, onde é que ele está vovó? Dispensando palavras, acanhou-me no teu colo e botou minha mão no seu peito e depois no meu. Sorrindo falou que meu coração batia na mesma frequência que o dela, assim como de mamãe e papai. Eles sim, me amavam incondicionalmente, e por isso devia-lhes algo em troca: o igual amor por eles. Os cabelos brancos e ralos de vovó davam-me a certeza de que ela sim, sabia o que era o amor. E qual seria então a diferença entre o amor da vovó por mim e o que mamãe sentia pelo papai?
Um dia você sentirá-lo minha neta. Falta pouco tempo, mas um dia ficará mocinha e aí continuamos essa conversa. Vai começar o seu desenho preferido. 
Olhando pelas lentes do seu óculos, não encontrei a resposta da minha pergunta. Sabia que ela não deixaria escapar qualquer sinal dessa minha dúvida tão tintilante. Eu senti que aquilo seria uma descoberta só minha, então eu abracei vovó e fui para frente da televisão. Mal vi meu desenho, porque na verdade, minha cabeça ainda tão ingênua, estava ocupada demais com os mistérios do amor.
Então cresci. Não perguntei para vovó mais sobre esse sentimento, mas esperei que um dia ele acontecesse. Até que aconteceu. Esse dia, como me recordo bem, senti como vovó me dissera naquela conversa. Entreguei-me de corpo e alma e deixei ser natural. Único e singular, lá estava eu, dizendo que amava. Concêntrica, deixando de lado a minha vida em prosa, para escrevê-la em versos. No centro, o amor e ele, e em volta, toda a falta que ele fazia quando ia embora. Na minha poesia, a rima e o ritmo guiados pela música que me fazia lembrar dele. Vovó não me contou, mas um dia chorei: seria isso consequência do amor? As lágrimas escorrendo pelo meu rosto não estavam no amor que vovó me falara. Questionei, sofri, e lá no fundo, doeu. Senti meu coração estraçalhar-se em pedaços tão miúdos, que achei que tudo isso seria eterno. O amor não deveria ser algo bom? Mas guardei minhas perguntas, poupei respostas. E o tempo foi passando, a dor também. Até que esqueci o nome dele. Justo alguém que dediquei meu primeiro amor. Resolvi procurar vovó para contá-la: senti que algo estava errado. 
Com o amor ou comigo.
Sendo já uma mocinha, ela poderia me contar. Então ela falou sobre paixão. Essa vem antes do amor, pode confundir e não é tão forte como ele. Disse que eu estava apaixonada por aquele garoto, e que o amor mesmo, guardaria eu, para alguém mais especial. Ainda não tinha chegado a minha hora de amar, era isso. Voltei para casa, disposta a encontrar o meu amor naquele dia. Foram meses que lutei para encontrar alguém que me fizesse sentir esse tão esperado amor.
Não encontrei. 
Vovó tinha razão, o amor não surgiria assim de repente. E amor para ser de verdade, deve ser recíproco, como o amor da mamãe e do papai. Eu estava querendo sentir cedo demais, coisas que ainda não estava preparada para estar dentro de mim. E agora estou aqui, contando tudo isso. Só que posso te contar um segredo? Eu precisava desse amor aqui no peito. Daquela paixão desaprendi a vida em prosa. Agora são versos que mais deixam vazios, que as próprias palavras sobre esses sentimentos. E quer saber o que fiz? Não perguntei a vovó, não senti, nem procurei esse amor. Nesse dia fiz diferente. 
Inventei.
Comentários

1 comentários:

Analícia Resende disse...

Oi fofa, eu amei seu blog, é mt lindo viu? E esse texto achei minha cara, parece até que fui eu quem escrevi. Continue assim, beijocas

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