Reinventa

"E me ocorreu que a ambição voraz dos seres humanos nunca é saciada 

quando os sonhos são realizados, porque há sempre a sensação de que 

tudo poderia ter sido melhor e ser feito outra vez." 

– A Culpa é das Estrelas, John Green

Sabe o que é? Cansei do ontem, persistente a lembrar que existe até hoje. Cansei de pensar demais enquanto acontecia de menos. Eu me faltei em vários momentos e ainda insisto em pensar neles antes de dormir. Vem-me um suspiro profundo e prolongado a preencher as falhas que achei que tinham ficado para trás. Não ficaram. Assim como o ontem, elas permanecem. E é isso que me angustia, isso de não entender muito bem onde começo e onde termino. Se é que tenho limites. Apesar de não ter descoberto ainda, espero não ter muitos entraves, apenas os necessários. Pelo menos, já sei que, quando eu menos vejo, minha mente já vai longe. Longe até de mim. Não sei, mas deve ser exatamente aí que eu começo, nos infinitos dos pensares. Aprendi que não devo alimentar os vazios. 

Veja que contraditório, esses vazios são a ausência da existência – na vida.

Já me peguei pensando nisso n vezes, porque, pelo menos semanticamente, é um bom paradoxo. Sabe por que é tão difícil deixar as falhas interiores enterradas no passado? É porque o passado permanece. Ele insiste, insiste nos seus defeitos, nas suas fragilidades e em toda a sua vulnerabilidade humana ao erro. Vai dizer que isso nunca te cansou? Eu tenho tentado me desvencilhar do ontem com todas as minhas forças. Mas, olhe bem, hora alguma quis deixar de ser quem sou. Poderia até falar de amor-próprio, visto que é uma propriedade cabível na minha tentativa de me descobrir. O amor-próprio talvez seja essa parte em eterna combustão, em busca do impulso vital.

Vê o que eu disse? Impulso vital.
Vitalidade. Viver e ver. Vida e ida.

Vazio não é vida, mas sim a ida do corpo sem pulsar até o último segundo. Acredito que o vazio seja exatamente o resultado das desistências, das tentativas cedidas, não sucedidas e colocadas como um ponto final. Eu não quero isso para mim, vai dizer que quer? Se tem algo que a vida tem me ensinado é a manter fortalecido o meu desejo de realização, mesmo quando minhas pernas fraquejarem, meus olhos descansarem e minhas mãos repousarem exaustas. Não sei bem se é um segredo, mas talvez a essência de uma descoberta tão íntima e pessoal quanto a sua música preferida: você deve se buscar todos os dias. Todos os instantes em que o seu coração se manifestar dentro de você. A cada pulso. A cada impulso. 

O amor-próprio vai na contramão das falhas não preenchidas na alma. Se for necessário, como foi para mim, começa do zero. Tenta de novo, mas não desiste. Seus problemas estão longe de ser os maiores do mundo, como os meus também estão. Só se parecem impossíveis porque é na sua pele que todos os efeitos deles são descontados. Somos pequenas anãs brancas perdidas na periferia de uma galáxia imensurável. E mesmo assim, tentamos descobrir nossos começos, vazios e fins. E você até pode descobrir seus limites físicos, mas a sua mente está em eterna construção, entre conflitos e mudanças. E entre simplesmente ver e viver, eu quero mesmo é lutar pela e durante a ida da vida. O pensar e o pulsar nos inventa. Se não der certo, recomeça e se reinventa.