Comportamento, moda, fotografia, música, textos de amor e dicas. Um Blog com tudo aquilo que adoramos fazer antes de sonhar! – Por Mariana Solis

sexta-feira, agosto 26, 2011


Lago das Mágoas

Se eu não voltei para seus braços que tanto amei, eu tive motivos. 
Motivos maiores que meu amor por você. Meu amor por mim.
Se dizem se um dia a gente cresce, nem que seja pelo mal, é porque felizmente ou não, chega a hora que os sonhos, por mais que existam, já se parecem com a realidade. A verdade é que todas aquelas ilusões um dia alimentadas já não convencem mais. De tantos e tantos tapas na cara dados ao longo desses dezenove anos, talvez eu nem acredite mais em finais felizes. Ou sei lá, nesses romances de músicas de rádio. Simplesmente não acredito. Por mais que eu amasse seu cabelo e suas mãos, eu sabia que você estava longe de ser um príncipe. Às vezes te via como o sapo, mas eu te amava assim mesmo: com todos os defeitos, mesmo que às vezes me fizesse gostar menos de você. 
De todos os contos de fadas, a realidade ainda era minha favorita.
Eu gostava de você e você de mim. Quando o mundo gritava para nós que jamais daríamos certo no futuro, você tampava meus ouvidos e me desconcentrava com seus lábios. Sussurrava só para minha alma ouvir, que eu era a garota perfeita para você. Que apesar de tantas críticas, nada te tiraria do meu lado. Eu te amava tanto que até brigar era melhor do que te ter distante de mim. Porque você estaria ao meu lado, dizendo todos os meus defeitos por impulso, e eu jogaria as verdades presas à garganta por tanto tempo. No fim, você ria e me abraçava, e tudo já não parecia mais importar.
E dessa realidade que eu tanto amava viver do teu lado, você me mostrou que amar é sinônimo de sofrer.
Anos que se passaram, você continuou do meu lado, mas já não éramos mais os mesmos. Tudo que eu sentia, já parecia mais uma obrigação. Eu continuava ali, porque já não me imaginava os dias sem você, por mais que eu desejasse uma liberdade que tinha perdido há tanto tempo por nós dois. Comecei a me sentir fatigada e cansada de tudo, principalmente de você. Chorava por qualquer coisa, porque para mim já não fazia mais sentido. Talvez eu ainda te amasse, mas eu já não me reconhecia. Quando me olhava no espelho não sabia quem estava vendo. Se era eu ou se não tinha ninguém ali no reflexo do espelho. Você já preferia a cerveja do que passar a noite vendo tv comigo. Eu nem era mais importante assim, mesmo que também sentisse o mesmo. Se fosse para jogar tudo pro alto, um de nós já teria feito, mas por quê continuávamos ali, se já não existia mais sentimento, tampouco amor?
Eu nunca entendi.
Comecei a lembrar de nós dois antes. De quando nos conhecemos pela ironia do destino. Te olhei como quem não queria nada, me perguntando se você também tinha um nome na mente enquanto via o sol esconder-se atrás do lago das gôndolas daquele parque. Se você também sentia saudade de alguém e pensava como seria você e esse alguém nos pedalinhos como um casal apaixonado no crepúsculo de uma tarde de sexta. Imaginei porquê estaria sob aquela árvore não tão robusta, em que pétalas laranjas eram levadas pelo vento e outras caíam no seu rosto. Imaginei se aquela árvore te trazia até ali por algum momento especial, como a que eu estava a te observar. Pensei porquê as tulipas te agradavam mais do que os lisiantos da minha árvore preferida na beira do lago.
Até que um dia enquanto eu chorava ao ver o sol se por, você veio até mim e sentou do meu lado. Passou os dedos no meu rosto úmido e sorriu, como se nos conhecêssemos há muito tempo. Pegou na minha mão, com um olhar apreensivo e disse antes de se levantar e voltar para a sua árvore:
Às vezes conseguimos chorar por tudo, exceto por lágrimas. Mas quando as palavras não são ditas, elas sempre estão no seu rosto. Por isso você está aqui, porque longe de tudo que te faz sofrer, é mais fácil sentir o que você não quer que saibam que sente. Ainda dói, mas quando passar, sorria e volte para os seus lisiantos lilás. Não limpe essas lágrimas, deixe-as aí. Quando se sentir forte, só as tire do seu rosto se elas já não estiverem no seu coração.

Você se foi, mas suas palavras me ficaram comigo. Logo você estava na minha vida, sabendo do motivo das minhas lágrimas. Te contei de que tinha amado um garoto por muitos anos até que um dia, depois que ele prometeu ficar comigo para sempre por amor, morreu num acidente de carro. E aquela árvore dos lisiantos lilás era minha preferida porque minha última lembrança dele era um buquê de lisiantos que me dera antes de viajar. E eu ficava ali a observar os pedalinhos e gôndolas, imaginando como seria nossa primeira tarde juntos. E toda a minha ingenuidade me fazia ficar ali, achando que um dia ele voltaria.
Achando que uma hora ele apareceria como se nada tivesse acontecido.
Mas eu tive sorte, você foi o anjo que apareceu na minha vida, para mostrar que um amor nunca morre, mas outros trazem tulipas e fazem delas um motivo de sorrir. Você me levou aos pedalinhos, e andamos de gôndola. Eu sentia que em você eu poderia acreditar em novos sentimentos. Não demorou muito e nos víamos fazendo planos para o futuro. Planos que duraram anos, mas um dia eu já não me via neles. Foi acabando, acabando, até que um dia as tulipas não tinham o mesmo cheiro de amor para mim. Os lisiantos cheiraram forte e todas as tardes que você me deixava sozinha, eu ia até elas, para esperar que as lágrimas viessem a tona e o passado voltasse para minha mente, numa lembrança contínua do que já não existia mais. Comecei a sentir falta daquele garoto que apesar de não ser o único, foi o meu primeiro amor. Pensava em como seria se ele não tivesse ido para sempre.
Nada mais fazia sentido para mim.
Numa das nossas brigas, na verdade a última, quando você disse que já não aguentava mais toda a minha fragilidade e que recentemente eu estava sensível demais. O erro foi que você não me perguntou porquê eu estava assim e sequer tentou me ajudar. Nem passou pela sua cabeça que você também tinha culpa de tudo aquilo. Para você, tudo não passava de mais uma das minhas crises e drama excessivo. Você achava que era carência enquanto eu via como falta de amor. Éramos dois desconhecidos dentro de uma mesma casa. Tentava me apoiar nas palavras que me dissera na primeira vez que conversamos, tentando acreditar que ainda dávamos certo.
Mas já era inevitável o nosso fim. Talvez eu deveria ter escutado tudo o que o mundo gritou para nós e nunca ter deixado você tampar meus ouvidos. Era ilusão. Nós jamais daríamos certo, mesmo sendo tão opostos e num quebra cabeça que só se completa com peças diferentes. Por mais que dentre as flores eu tivesse te conhecido, aquele nunca foi o seu lugar. Naquele dia que brigamos, com uma tulipa nas mãos lhe perguntei por quê aquele cheiro não me lembrava mais você. Essa pergunta simplesmente te fez estourar. Num ataque efêmero de cólera, você disse já não suportava mais todas essas minhas manias. Mania de ver amor em qualquer lugar, a ponto de uma flor fazer alguma diferença. Era uma flor que logo morreria, e esse era o ciclo.
Eu só te disse que como uma flor que morre, nosso amor também não existia mais. Que se eu tinha te amado, era porquê você me fez acreditar que o cheiro de tulipas era muito melhor que dos lisiantos. Que se eu tinha te amado, foi porque você me fez acreditar que o seu amor valia mais do que sofrer por alguém que jamais voltaria.
Então você disse que como as flores, eu já não tinha a menor importância. 
Eu tentei sorrir e parecer forte, fingindo que te ver dizendo tudo aquilo não doeria em mim, mesmo que soubesse que um dia aconteceria. Eu só não esperava que fosse desse jeito. Eu já sentia uma parte faltar antes mesmo de você passar por aquela porta. Você pegou suas malas e foi, sem perguntar se eu ficaria bem. Deixei você ir, e esperei que um pouco daquela mágoa cessasse a ponto de que eu tivesse alguma força sobre minha pernas para me erguer do chão. Não precisava te seguir, porque eu sabia exatamente onde você iria. Não por intuição, mas por amor. Sempre que algo te incomodava, as árvores do lago te reconfortavam. Peguei as minhas chaves e saí, mesmo que sem forças e com as lágrimas incessantes nos olhos, embaçando minha visão.
Escurecia, e o por do sol vinha mais uma vez, devagarzinho, pintando o céu de cores tristes que de alguma forma, combinava com tudo que eu estava sentindo. Abracei meu corpo e caminhei. Em plena primavera eu sentia o corpo estremecer e o arrepio subir-me a espinha. Eu sentia frio, mas era minha alma que congelava. Procurei as flores. Procurei as rosas, as margaridas, as flores de laranjeira. Não te vi em lugar algum. Temi, mas procurei as tulipas.
Mas você não estava lá.
Na beira do lago, casais passeando, ao fundo o soar leve de Mozart da fonte. Um nó se formava na minha garganta, enquanto pensava que você não estivesse ali, porque sabia que eu iria atrás de você, até suas flores preferidas. Sentei sob a minha árvore, deixando que tudo aquilo que me sufocava viesse à tona. Esperei por muito tempo, procurando em cada rosto o que faltava no meu. Nas tulipas um casal. Mas eu reconhecia seu cabelo de longe, e eu sabia que flores já não tinham mais importância.
Assim como eu.
Me senti perdida, mas eu sabia que eu não tinha culpa. Eu poderia te esperar, porque sabia que um dia chegaria. A lua refletia no lago, iluminando os rostos dos casais que por si só já possuíam um brilho inquestionável. No meu rosto o único brilho era o das lágrimas. Eu sabia que você estava ali, só não sabia onde. Deveria te procurar, mas meu corpo estava pesado demais. Foi quando encontrei um sorriso. 
Era você. Só que dessa vez seu sorriso não era para mim.
Na gôndola, dois lábios se tocavam e se deliciavam. Nos seus olhos, o brilho evidente de que eu já não fazia mais falta. Você estava acompanhado de alguém que te fazia feliz. Se não fazia, era quase isso. Doeu, mas eu precisava ver. Tentei reconhecer o rosto daquela mulher, mas ela não passava de uma estranha para mim. Era difícil para mim admitir que você tinha me deixado por outra. Que você tinha conhecido alguém melhor do que eu para chamar de amor. Das lágrimas que por impulso saíam, tentei parecer forte. Só não pude evitar que a fraqueza tomasse-me o corpo, quando daquela mulher que não reconheci, vi o que ele havia lhe dado.
Neles, o amor. Nos lábios dele, um sorriso. Nas mãos dela, um buquê de flores.
De lisiantos lilás.
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