Comportamento, moda, fotografia, música, textos de amor e dicas. Um Blog com tudo aquilo que adoramos fazer antes de sonhar! – Por Mariana Solis

domingo, setembro 25, 2011


A vida cessou

A música soava como um toque que leva à boca, apenas o ritmo dela mesma. O sonoro cantar mudo, a mente a vagar longe e as mãos balançando nervosas, trazia para o meu rosto, que eu definitivamente não estava ali. Estivesse apenas de corpo, e levada pelo vento, coração e alma. Por trilhas dantes passadas, caminhava lenta e calma, rumo a lugar nenhum. Meu, porém vazio. O controle já havia me escapado por entre os dedos, e eu já tomava por inegavelmente perdida.
O meu pensar já era incoerente, meu andar mecânico. Os pés que encontravam a terra, estavam na verdade, no céu. Insistia no ressoar da garganta, a música que descobrira anteontem. Ela simplesmente se tornara minha preferida, por conseguir colocar nas palavras, a essência do que eu nunca soube sentir. Se meus pensamentos tentavam falar alto pelo coração, eu conseguia calá-los com sua própria história. Aqueles três minutos falavam muito de mim. 
Muito do que tive medo de demonstrar.
Mas então doeu. Sangrou e ninguém viu. Os olhos que enxergavam estavam dentro de mim. Pois sim, me vi como num pranto incessante da dor que mais uma vez, achei não sentir. Faltar-me ia, em breve, até eu mesma. De tudo que se silenciou, até a música que dos lábios brotava, viu-se sem som. O chão rodara, o ar não mais alcançava meu pulmão. O aperto no peito esmagara até mesmo o que pensei não estar dentro de mim. Alma, por que ainda existes? Tomei-me por um abismo, que mal imaginava, ultrapassava qualquer limite físico. Senti-me no meio de uma multidão para mim visível, e a garganta quase lhes gritara um pouco de vida para a minha, que sentido já não possuía. Imaginei-me longe dali, num vestido branco, tão longo que seria preciso levantá-lo um pouco para poder caminhar. Tomada pelo claro à minha volta, procurava na imensidão do vazio, a imensidão que fazia-se o vazio maior dentro de mim.
Dos devaneios que vi, a vida parecer-me-ia a maior loucura.
A partir daí, qualquer sentimento fora um erro. Apenas a lágrima que de dor, demonstrava a alma que numa confusão, não sabia ser mente ou razão. Recordei-me, naquele instante, de tudo que prometera eu, fazer diferente no futuro. Desse corpo penado que tive por direito, poupei-me o toque, o sorriso e a felicidade. Porém daquele amor, guardei memórias e o meu eu que um dia existira. Ausentou-me rumo, voz, força e música. Talvez em breve, mas não agora, eu encontre o corpo que eu preciso, que mesmo longe de mim, faz-se meu. Na melodia que, apesar de não ser minha preferida, diz sobre a vida que sempre quis ter, mas não tenho. Desistiria pois, de tudo, do que na realidade, concretizava-se no nada. Escurecera, de dentro para fora, até os resquícios da minha existência, levar-me a ser apenas o corpo a quase desfalecer no pranto da dor de tantas perdas. Esperei que cessasse, que toda aquela mágoa não passasse de um sonho triste, ou o meu pior pesadelo.
Só que dessa vez era real. E eu estava sozinha.
Meu corpo ainda sobre a terra e do que não passara, estou aqui. De lágrimas que banham-me a face, perguntas se feitas, apenas respondidas em não sei, por eu não realmente saber, porquê tudo dói e falta. Sei, apenas, que não estou aqui. Esse corpo é meramente um corpo, e essa música é um ruído que de melodia, fez-se trilha sonora dessa dor. Estou longe, mas não sei onde. Fraca e debilitada, meus pensamentos não passam de ilusões, e minha vida não passa do reflexo preto e branco no espelho. Culpo-me pelo que errei, num mártir, do que nem ao mesmo vivenciei. Afinal, vida minha não possuo. Dessa distância que de mim mesma sinto, não saberia responder. Quando volto? Sei que assim, morrendo à toa, partindo aos poucos, apesar de lúcida, o pulsar não é mais ritmo do meu coração. Certeza me dera a razão, que essa possa ser mais uma vida desperdiçada pela fraqueza que eu mesma procurei.
Isso não é um conto. 
3 comentários

3 comentários:

Anônimo disse...

Sei que é forte e lúcida o bastante para fazer o caminho de volta a razão. A vida que você a sua frente, é repleta de sonhos, possíveis e belos.

Mariana Solis disse...

Obrigada pelo apoio, isso realmente faz meu dia melhor! Quem é? Volte sempre, é bom te ver por aqui!

Clarissa disse...

Que tenso cara, mas que perfeito. Fiquei chocada, mas você escreve bem demais.
Juro que estou emocionada.

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