Deve ser por isso que fico (ficamos todos, acho) tão abalado quando, sem nenhuma preparação, ela acontece de repente. E então o espanto e o desamparo, a incompreensão também, invadem a suposta ordem inabalável do arrumado (e por isso mesmo “eterno”) cotidiano. A morte de alguém conhecido ou/e amado estupra essa precária arrumação, essa falsa eternidade. A morte e o amor. Porque o amor, como a morte, também existe - e da mesma forma dissimulada. Por trás, inaparente. Mas tão poderoso que, da mesma forma que a morte - pois o amor também é uma espécie de morte (a morte da solidão, a morte do ego tracando, indivisível, furiosa e egoisticamente incomunicável) -, nos desarma.
O acontecer do amor e da morte desmascaram nossa patética fragilidade.
O acontecer do amor e da morte desmascaram nossa patética fragilidade.
Trecho de "Em memória de Lilian (Lemmertz)" do querido Caio Fernando Abreu
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